16 março 2015

Rota do Cangaço com crianças: a história de Lampião e Maria Bonita

Lampião e Maria Bonita, duas figuras lendárias da história do nosso Nordeste. Uma história de amor, de coragem, de tragédia... e com um quê de loucura! Ao embrenhar-me pelo sertão nordestino, entre Piranhas (AL) e Canindé de São Francisco (SE), não poderia deixar de conhecer a Rota do Cangaço, que fica no município de Poço Redondo/ Sergipe.

Foi um passeio não programado, que entrou de repente no roteiro ao acrescentarmos mais uma noite na apaixonante cidade de Piranhas. Incrível foi ver como o turismo realmente é levado a sério nessa região, ou o respeito pelo turista, também poderia dizer. O catamarã que nos levou até o ponto de partida para a trilha, o Cangaço Eco Parque, saiu com apenas 3 passageiros: eu, Theo e o Sr. Cariocando. Os tripulantes disseram que é uma filosofia da empresa (MF-Tur), de não deixar o turista voltar pra casa sem fazer o passeio desejado, independente da quantidade. Achei bacana (e raro).


Hidromassagem natural do catamarã


Para chegar até o Eco Parque, navegamos pouco menos de uma hora pelo outro lado do Rio São Francisco, que é emoldurado por um cenário lindíssimo de natureza abundante. Já disse aqui antes, em outro post dessa viagem, mas preciso repetir: a paz desse lugar é algo difícil de definir. Revigora, acalma... é muita energia. O céu ora se apresentava azul, ora com seus 50 tons de cinza.

Velho Chico

A trilha
A trilha sob o sol escaldante do sertão nordestino é cercada por diversas espécies de cactos, minha paixão - e responsável pela cegueira em um dos olhos de Lampião. Entre mandacaru, xique-xique, coroa de frade e quipá, e com a trilha sonora mental do Xote das Meninas do grande Gonzagão, a gente vai conhecendo um pouco mais da caatinga, o único bioma 100% brasileiro. 


"Mandacaru quando fulora na seca, é o sinal que a chuva chega no sertão..."




Tive a oportunidade de experimentar o fruto do xique-xique, de textura curiosa, meio esponjosa, dono de uma linda cor rosa vibrante e sementes pretas. Não me agradou tanto o sabor, mas foi interessante experimentar novas sensações.


Nosso destino era a Grota de Angicos, palco do massacre que culminou na morte de Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros de seu bando em uma emboscada, em 1938. E apesar de a história ser marcada por violência e tragédia, é um passeio que vale a pena. É história pura! 

Um Lampião pra chamar de nosso!

Água na mochila, boné, muito protetor solar e disposição, seguimos caminhando com uma belíssima companhia do nosso lado direito, que por vezes se escondia entre a vegetação: o deslumbrante Rio São Francisco. Impossível não se apaixonar, mesmo encharcado pelo suor dos passos mata adentro.


A trilha é puxada, cheia de subidas e descidas, sol, calor, mas a vontade de chegar venceu. Difícil desanimar quem lê essas linhas, mas sinceramente não recomendo essa trilha com crianças pequenas não. Nós fomos meio desavisados, não sabíamos exatamente o que nos esperava. Valeu a pena? Muito! Mas não é moleza não. 

Na "carcunda" do papai é bem melhor...


O Theo é uma criança que não reclama muito, mas adora um colo. A partir de determinado ponto começou a ficar puxado pra ele, e mais ainda para o Luiz, que por vezes teve que pegá-lo no colo e subir, e subir, e subir. Por sorte nosso guia, travestido com a bravura de Lampião e já acostumado com os percalços do caminho, pegou o Theo no colo e aliviou um pouco o cansaço. 

Obrigada, senhor, pela graça alcançada!

Ao chegarmos na grota, nosso guia cabra macho, e um apaixonado pela história do ora herói, ora bandido Virgulino Ferreira da Silva, parecia vibrar ao contar com tanto entusiasmo a história que por ali passara tão pouco tempo atrás.

Grota de Angicos

Após matarem o Rei do Cangaço e seu bando, os policiais cortaram suas cabeças e as expuseram na escadaria da Prefeitura de Piranhas. A foto é chocante - não deixe de visitar o Museu do Cangaço, no centro de Piranhas. O local do massacre em si não tem nada demais, o interessante (pelo menos pra mim) foi poder vivenciar um pedaço da história do meu país e conhecer melhor um pouco dessa passagem controversa de Lampião e seus cangaceiros.

Grota de Angicos

No local foram fincadas cruzes e algumas placas com os nomes dos cangaceiros mortos e de Adrião, o único soldado morto no confronto. A história é muito interessante, e eu ficava me perguntando como eles aguentavam o calor escaldante do sertão com aquelas roupas de manga comprida!


Apesar da dificuldade, foi um passeio extremamente marcante para o Theo, que até hoje vibra ao ver um cacto "perdido" pelo Rio de Janeiro. É nessas horas que a gente tem certeza do quanto essas viagens fazem bem às crianças...

Ensopados e felizes

Depois da aula de história ao ar livre, in loco, hora de descansar! A estrutura do Cangaço Eco Parque é completa e muito agradável. Literalmente sombra e água fresca... e uma comidinha caseira que a gente já "encomenda" na chegada, antes de iniciar a trilha. Piscina? É logo ali... no Velho Chico mesmo.

Um banho nas águas do Velho Chico

Um gramado extenso, muitas árvores, redes e painéis com a história de Lampião e Maria Bonita fazem parte da "decoração" do lugar.




O catamarã, exclusivamente à nossa espera, sinaliza que é hora de voltar para Piranhas, de onde saímos. E a energia gasta na trilha rapidamente é revigorada no caminho de volta pelo rio São Francisco, um velho sábio e bonitão, que tem um poder que transcende nosso entendimento. Só navegando por suas águas para sentir...

O cansaço pós-trilha

E ainda fomos presenteados com esse entardecer belíssimo!

A calmaria do Rio São Francisco


> O Jodrian Freitas, do blog Aventura Mango, tem um post lindíssimo sobre cactos. Não deixe de ler!

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Rota do Cangaço
MF-Tur
(79) 9972-1320
*Fechamos esse passeio na recepção do nosso hotel.

OBS: Uma outra opção seria fazer esse passeio a partir do restaurante Angicos. Me parece que a trilha por lá é bem menor do que a que fizemos, mas essa opção não nos foi dada na ocasião.
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Um comentário:

  1. Muito legal o seu post, também acho que vale a pena conhecer um pouquinho mais da nossa história sempre... :)

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